Em princípio, parece tratar-se de uma travessura do deus Netuno. Justamente em uma praia de São Paulo, lacustre, bem entendido, cidade que não tem mar – como gostam de lembrar e alardear os cariocas – está nascendo um projeto que irá disciplinar, em todo País, a fruição dos prazeres propiciados pela combinação de sol, brisas, ondas e areia.
Haverá inúmeros benefícios, como se verá adiante. O mais notável refere-se aos atropelamentos por lanchas e jet ski, que deverão desaparecer do noticiário policial. Esta novidade está embutida em um programa de revitalização da represa de Guarapiranga, ora em andamento, que prevê providências e procedimentos para transformar nossas praias em ambientes civilizados.
Membros da Guarda Civil Metropolitana são treinados pela Marinha para zelarem pelas águas da represa. Objetivo é transferir para o poder público municipal a missão de cuidar das águas da Guarapiranga.
Foto: Guty/Divulgação
“Conforme o seu desenrolar, essa experiência paulistana deverá se desdobrar em toda a orla brasileira”, anuncia o Inspetor Dalmo Luiz Coelho Álamo, da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Antes de prosseguir com as explicações, é necessário esclarecer por que a corporação está metida nessa empreitada, uma vez que qualquer assunto relativo às praias, inclusive as de represas, é atribuição exclusiva da Marinha. Mas ocorre que, evidentemente, a Arma não tem condições de vigiar todas as praias do País. Concentra prioritariamente seus esforços nos pontos estratégicos. Basta olhar nossas gigantescas bacias hidrográficas e os oito mil quilômetros de litoral brasileiro para compreender essa opção.
Nem a frota inglesa dos bons tempos da Rainha Vitória daria conta do recado. Por isso, a ideia de repassar tarefas localizadas para instituições regionais teve o mesmo efeito singelo de colocar o ovo de Colombo em pé. Está cabendo à GCM paulistana inaugurar a iniciativa.
Mapeamento – A primeira etapa desse programa consistiu em um minucioso mapeamento de toda a orla da represa, no sentido de marcar território para as várias atividades de lazer próprias de uma praia. Esta divisão, que está sendo finalizada, reservará áreas específicas para banhistas e para a prática de esportes náuticos. Isto quer dizer que não haverá promiscuidade entre as partes, de modo a prevenir riscos de acidentes.
Já está definido que a faixa relativa ao bairro de Capela do Socorro terá 17 pontos de aproveitamento; a de Parelheiros, quatro, assim como no M’Boi Mirim. Uma boa notícia para as mães, sempre preocupadas com o excitamento de filhos pequenos quando vão à praia e ignoram os perigos, é que está extinta a farra de se colocar embarcações na água em qualquer lugar que o dono do equipamento decida.
Caso o barco não esteja registrado em alguma marina da represa, portanto com o acesso regulamentado, somente o fará através de uma rampa pública, cercada de cuidados.
Todas essas ordenações darão novos e coloridos ares à represa, devido os cordões de bóias sinalizadoras para delimitar os espaços dos navegadores e dos banhistas.
Patrulhas – Enquanto as pessoas estiverem se divertindo – a represa recebe, em média, cinco mil visitantes por dia nos picos mais quentes – quatro barcos da GCM irão cortar as águas da represa para fiscalizar e fazer valer as novas regras.
Pela maneira como a tripulação deles foi capacitada, não se trata de marinheiros de água doce, o que é apenas uma forma de dizer, já que Guarapiranga não é salgada. Seus componentes foram treinados por especialistas da Marinha para controlar qualquer situação que se manifeste na areia ou debaixo dos seus cascos, aplicando abordagens próprias dos preceitos náuticos.
Os primeiros 10 condutores formados merecem uma menção especial. Eles já carregam no bolso a habilitação de mestre amador, um patamar bem acima do simples piloto dos barcos de recreio. Com essa carteira, eles podem praticar navegação costeira a um limite de 20 milhas, ou 37 quilômetros, inclusive para portos internacionais, conduzindo embarcações a vela ou motor. A partir dessa medida, cabem somente os grandes barcos transoceânicos. Esse preparo indica a seriedade do projeto.
Resgate – No momento, a GCM possui uma frota de quatro barcos, a serem ocupados por uma tripulação entre dois ou três homens. Além das tarefas de controle, estão aptos a organizar operações de resgate e prestar socorros. Vão trabalhar com uma farda leve, constituída de short e camisa polo na cor azul marinho da corporação e tênis.
Mas ninguém deve se iludir com essa descontraída apresentação esportiva: na cintura, carregarão o revólver calibre 38 ou a pistola 380, armas utilizadas pela Guarda. O turno de trabalho somente será encerrado quando morrer o último raio de sol. “A ideia é a de ampliar esse efetivo”, anuncia o inspetor Álamo. “Já em 2013 teremos mais 10 condutores e naturalmente a frota vai aumentar”.
Convênio – Na segunda-feira passada, 12 de novembro, o prefeito Kassab se reuniu com as autoridades do 8º Distrito Naval, sediado em São Paulo, para definir a data de assinatura do convênio entre a Prefeitura e a Marinha, que deve ocorrer ainda antes do início deste verão, que se aproxima.
A partir daí, o projeto de Guarapiranga passará imediatamente a ganhar vida e tornar-se referência para todas as nossas águas, do Oiapoque ao Chuí, passando por Canoa Quebrada, Porto das Galinhas, Abaeté, Copacabana, Jurerê e Lagoa dos Patos.
Fonte: Diário do Comércio - Detalhes
Publicado em Quinta, 15 Novembro 2012 20:44
Escrito por José Maria dos Santos
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