No ABC, casos atribuídos à “guerra silenciosa” entre polícia e bandidos se tornaram frequentes / Forlan Magalhães.
Nos últimos meses, a explosão de casos de violência e de assassinatos no Estado de São Paulo tem amedrontado a população, principalmente pelo envolvimento de policiais militares em grande parte dos crimes, como vítimas e autores. É impossível não remeter o cenário à onda de ataques realizada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em 2006, uma vez que ameaças de toque de recolher voltaram a assustar o cidadão comum.
Se as regiões periféricas do município de São Paulo são as que atualmente mais sofrem com a sensação constante de insegurança, no ABC, casos atribuídos à “guerra silenciosa” entre polícia e bandidos também se tornaram frequentes. Mesmo com as constantes negativas das autoridades sobre a existência deste embate, durante o último feriado de Finados, São Bernardo, Santo André e Mauá registraram uma série de crimes, que totalizou 16 vítimas, oito deles fatais.
Como o quadro não permite que a Segurança Pública seja tratada como obrigação exclusiva do Estado, os prefeitos eleitos da região começam a se preparar para participar da empreitada.
Iniciativas como a implantação do programa Atividade Delegada, que visa ampliar o salário dos policiais por meio de hora extra remunerada – o que também impediria o exercício de outras funções fora do horário de trabalho –, o aumento do efetivo da GCM (Guarda Civil Municipal) e investimentos em videomonitoramento são projetos que estão na pauta dos próximos dirigentes do ABC.
Lauro Michels defende integração policial em Diadema
Considerado por muito tempo como um dos municípios mais perigosos e violentos do Estado, Diadema assistiu seus índices de criminalidade caírem vertiginosamente a partir de lei criada em 2002, que proibiu o funcionamento de bares após as 23h. Entretanto, os recentes casos de violência e os boatos de que criminosos também estariam impondo o toque de recolher no município trouxeram de volta o sentimento de insegurança aos diademenses.
Para tranquilizar a população, o prefeito eleito Lauro Michels (PV) promete buscar a interlocução entre as diferentes forças policiais e, assim, conseguir brecar ações do crime organizado. “Quero integrar o trabalho da PM com o da Polícia Civil e GCM, e trabalhar com a inteligência para agirmos preventivamente”, declara.
O verde também promete ampliar o efetivo da GCM e as operações de rua, além de trazer para Diadema o programa Atividade Delegada. “Penso ainda em ampliar o número de rondas e das bases policiais”, aponta. “A integração entre a polícia de toda a região do ABC seria um ganho para a população”, acredita o futuro prefeito.
Sem medo.
Apesar de reconhecer o desconforto existente entre a população, Michels diz não acha que os casos de violência interfiram diretamente na rotina dos munícipes. “Não acredito que haja um clima de medo instalado em Diadema por conta do conflito entre policiais e criminosos, apesar de os cidadãos clamarem por mais segurança, pois temos um alarmante índice de roubos de veículos”, define, ao se demonstrar otimista com a definição da situação.
“Ainda bem que a presidente Dilma Rousseff e o governador Geraldo Alckmin estão diretamente tratando das ações inibidoras do crime na Capital. Acredito que os resultados deverão ser satisfatórios de agora em diante”, comenta Michels.
Mauá deve ganhar mais Guardas Civis e câmeras, diz Donisete.
Com inúmeros problemas estruturais, como a distribuição de água e a construção de moradias em áreas irregulares e de risco, Mauá nunca deixou de conviver com problemas relacionados à violência. Exemplo é que em março de 2011 entrou em vigor no município a lei 3.508, que, assim como em Diadema, obriga os bares a fecharem suas portas a partir das 23h, e que também atingiu relativo sucesso.
Para manter este cenário e driblar a interferência da onda de crimes iniciada na Capital, o prefeito eleito, Donisete Braga (PT), pretende aliar tecnologia e efetivo policial, em seu mandato que se inicia em janeiro de 2013. “Temos uma defasagem de cerca de 110 guardas municipais e iremos contemplar esta demanda assim que possível. Também vamos investir cada vez mais no videomonitoramento das entradas e saídas da cidade e em equipamentos importantes, como escolas”, projeta.
Donisete Braga diz já ter conversado com lideranças da Polícia Militar, Civil e da própria GCM para identificar ações que poderiam ser tomadas em sua administração. “A lei de fechamento dos bares foi aplicada muito bem, mas este contato constante com as forças policiais sempre é essencial”, ressalta o petista. O prefeito eleito também defende a interlocução com o governo estadual e federal como estratégia para manter sob controle a segurança de Mauá. Afirma que o tema deixou de ser algo só direcionado ao governo do Estado e agora tem de ser compartilhado. “O auxílio de programas federais, como o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), também será um aliado importante neste sentido”, finaliza, ao citar o programa que se baseia na mescla de políticas de segurança com ações sociais mantidas pelo governo federal.
Saulo estuda GCM e videomonitoramento para Ribeirão Pires.
Em Melhorar as condições de trabalho da Guarda Civil Municipal e investir em equipamentos de segurança encabeçam a lista de prioridades do vereador Saulo Benevides (PMDB), eleito para assumir o Paço de Ribeirão Pires em 2013.
De acordo com o futuro chefe do Executivo, a próxima gestão deve enxugar gastos municipais para garantir investimentos na Pasta, além de buscar, junto ao governo federal, recursos para implementar novos projetos. A instalação de videomonitoramento 24h em pontos estratégicos da cidade, orçado em R$ 1 milhão, é um dos projetos do peemedebista.
“Pretendemos equiparar o salário dos GCMs (que recebem, atualmente, entre R$ 904,96 e R$ 1.499,54) aos valores pagos na região e investir em equipamentos. Isto será possível a partir do momento em que economizarmos em gastos públicos. Acredito ser possível reduzir as despesas em até 20%”, aponta o prefeito eleito.
Para 2013, o Orçamento Municipal de Ribeirão Pires, ainda não aprovado em definitivo pela Câmara Municipal, é da ordem de R$ 241,1 milhões. Para o setor de Segurança estão previstos mais de R$ 4,7 milhões.
Sem orçamento, Gabriel Maranhão prioriza prevenção.
Menor município do ABC, com 37 km² e apenas 40 mil habitantes, Rio Grande da Serra não possui uma Pasta responsável pela segurança e, consequentemente, não conta com orçamento voltado à área. Baseada em lei orgânica municipal, na cidade existe apenas um destacamento da Polícia Militar subordinado a Ribeirão Pires e, também, não há atuação da GCM.
De acordo com o prefeito eleito, Gabriel Maranhão (PSDB), dada a limitação relativa ao orçamento, os projetos para a segurança da cidade estão baseados na criação de políticas de prevenção. O tucano considera Rio Grande uma cidade ainda tranqüila e que a maior parte dos problemas advém do tráfico. “Por isso, queremos minimizar a criminalidade com ações preventivas e educacionais, que são mais baratas do que investir em policiamento”, aponta.
Maranhão pretende criar uma Escola Técnica Estadual (ETEC) na cidade, para preparar os jovens para o mercado de trabalho e diminuir o envolvimento deles com a criminalidade. “O crime é um lugar rentável. Quando o jovem não tem opção, ele parte por essa via”, diz.
Entre os projetos para 2013, o tucano cita a pretensão de transformar o destacamento da PM local num batalhão. O futuro prefeito avisa que vai buscar ajuda do governo estadual, que está mais próximo, para fazer a mudança. Ainda segundo Gabriel Maranhão, a criação da GCM é uma demanda do município, mas não está entre as prioridades de seu mandato. “Temos o desejo de criar a GCM, mas isso pede uma verba para investimentos que ainda não temos”, explica.
Grana quer criar secretaria própria em Santo André.
Em Santo André, o prefeito eleito Carlos Grana (PT) cogita a possibilidade de apresentar ao novo Legislativo um projeto de reforma administrativa, que criaria uma pasta específica para segurança, que desde 2008 é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Segurança e Trânsito. De acordo com o futuro chefe do Executivo, o orçamento para 2013 está estimado em R$ 83 milhões, sendo que 80% é direcionado ao trânsito.
“A sensação de insegurança tomou conta da sociedade. Achamos que isso não é responsabilidade apenas do Estado. O município tem de ter papel relevante nesse setor”, sentencia Grana.
Entre outras propostas sugeridas pelo petista estão o fortalecimento da GCM e a implantação do programa Banho de Luz, que revitalizaria a criticada falta iluminação da cidade com a instalação de 30 mil lâmpadas. Grana quer, ainda, debater junto ao Consórcio Intermunicipal Grande ABC a adesão do município à Atividade Delegada, o chamado “bico oficial” da PM. “São medidas de baixo custo que geram alta eficiência”, aponta.
Paulinho Serra (PSD), que está por trás dos projetos Banho de Luz e da criação de rede de monitoramento eletrônico integrada para vias e corredores comerciais – onde na vereador ocorre a maioria dos casos de violência em Santo André –, afirma que o governo Grana se encarregará de reforçar a parceria com a União na implementação de novos projetos.
Serra explica que existe uma linha de crédito disponibilizada pelo governo federal especificamente para a implantação de políticas integradas, voltadas para trânsito e segurança pública, caso do sistema de monitoramento.
“Infelizmente, a atual gestão fez poucos projetos e acabou obtendo poucos recursos”, avalia o vereador.
Apoio federal amplia ações em São Bernardo.
Com a maior extensão territorial da região, São Bernardo se tornou nos últimos quatro anos também a grande captadora de recursos federais da região. O fato propiciou à cidade ganhar inúmeras obras estruturais e de habitação. O grande aporte, direcionado a partir da apresentação de projetos e que foi fundamental para que o prefeito Luiz Marinho (PT) conseguisse ainda no primeiro turno a sua reeleição ao Paço, também acabou sendo aproveitado pela Pasta da Segurança, criada em 2009.
“Tivemos do governo federal um direcionamento de R$ 8 milhões, que contribuiu para a compra de viaturas, bicicletas, coletes para a GCM, que hoje possibilitam que 100% dos guardas trabalhem com colete à prova de bala”, diz o secretário de Segurança da cidade, Benedito Mariano, ao revelar a intenção de recorrer ao videomonitoramento para fortalecer a atuação policial.
“Recebemos R$ 1 milhão do governo federal para iniciar o projeto de videomonitoramento e já monitoramos 10 escolas do bairro Alvarenga. O nosso projeto mais estratégico é o programa Cidade Segura que prevê a instalação de 400 câmeras na cidade e a integração por meio de software, junto ao Samu, Defesa Civil e Departamento de Trânsito”, completa Mariano, já que Luiz Marinho aproveita as férias após o término das eleições. O secretário também revela que São Bernardo doará para o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, seu atual prédio do Centro Regional de Formação de Guardas Civis. “Temos contribuição do governo federal para compras de equipamentos novos e dois micro-ônibus. Doaremos o prédio e as sete cidades vão ter uma contribuição para o custeio. A ideia é que o Grupo de Trabalho desta área do Consórcio de Segurança formate um plano gestor deste centro que possa beneficiar a região”, finaliza Mariano, também coordenador do GT.
Pinheiro reforçará PM e número de câmeras em São Caetano.
Em São Caetano, o prefeito eleito Paulo Pinheiro (PMDB) afirma que começará seu mandato com a pasta de Segurança totalmente planejada. O futuro chefe do Executivo já tem um gabinete de Segurança Pública atuante em seu escritório político, sob comando do coronel Quesada (PMDB), principal cotado para assumir a Pasta no ano que vem.
Segundo o vereador, o aumento do contingente da Polícia Militar será medida prioritária a ser executada pelo seu mandato. “Vamos fazer circular mais viaturas, para reforçar o policiamento ostensivo, fazendo com que a população sinta-se mais segura”, diz.
O próximo passo será aumentar o salário dos policiais militares que atuam em São Caetano, que recebem cerca de R$ 200 a menos do que os oficias de outras cidades do ABC. Segundo Pinheiro, a Prefeitura subsidiará essa ajuda de custo.
Embora leve mais tempo para execução, por conta de investimentos e processos de licitação, a instalação de um sistema integrado de monitoramento, triplicando o número de câmeras existente na cidade (cerca de 60, atualmente) também está entre os planos de Pinheiro para 2013.
Ainda de acordo com o vereador, não haverá grandes mudanças para a GCM local. “Temos contingente suficiente de guardas civis e de viaturas. Ver como melhorar a funcionalidade da corporação será uma de nossas ações”, afirma.
A peça orçamentária de São Caetano, para 2013, estima pouco mais de R$ 15 milhões para a Segurança. O montante representa cerca de 1% do Orçamento Municipal, e deve ser ampliado após Pinheiro assumir o Paço.
Fonte: http://www.reporterdiario.com.br