Observando as discussões e publicações em fóruns na internet, além de algumas conversas tidas com colegas policiais de vários estados do Brasil, fica claro que há um sentimento nacional de receio entre os policiais por causa da possibilidade de sofrerem atentados em virtude de sua condição profissional – principalmente os militares, que trabalham fardados diuturnamente. Os exemplos de São Paulo e Santa Catarina por enquanto têm servido de ameça às demais polícias brasileiras.
Se por um lado é preciso ter cautela e faro para as informações que nos chegam, nem sempre oriundas de fontes confiáveis, por outro é prudente estar atento às possibilidades de eclosão de crises locais, alinhadas ou não com os crimes que ocorrem em outros estados. Por imitação, delinquentes podem se aventurar em empreitadas semelhantes, mesmo que se diga com algum grau de certeza que um movimento criminoso regional ou nacional não seria possível (tese que pode ser colocada em questão com as capacidades atuais de comunicação, por exemplo).
O fato é que esta insurgência do crime está prevista na gama de desdobramentos da atividade policial: quem cumpre a lei contra alguém tende a desagradar, e nem sempre se dobra à ação policial legítima. Assim, todos nós, policiais, sabemos que determinados ambientes, posturas e comportamentos são arriscados para quem atua desagradando aqueles que se encorajam contra a lei.
Aqui cabe uma ressalva, que se refere aos diferentes matizes que este cenário aparentemente simples pode assumir. Nem sempre policiais mortos são policiais que cumpriam a lei. Nem sempre policiais mortos morreram por sua condição de policial. Esta confusão, porém, não anula o óbvio e absurdo extermínio de policiais que está ocorrendo em algumas partes do país – simplesmente por ser policial.
Se os policiais têm consciência de que represálias à sua ação legal podem ocorrer durante sua carreira, sendo esta até uma “naturalidade infeliz” decorrente da profissão, os gestores das polícias e os governantes não podem encarar este aspecto como desprezível. É preciso dar demonstrações claras à tropa de que há apoio e resguardo à sua vida. Sem descuidar de fatores centrais na prevenção à morte de policiais, que vai desde a valorização salarial, garantindo moradia e transporte digno, isentos de áreas conflagradas e exposição a ‘bicos’ precários, até a limpeza ética das polícias, já que policiais envolvidos com o crime organizado podem ser estopins de crises como a que se vive atualmente.
Há policiais no Brasil que vigiam particularmente ruas por R$30 reais a noite. Há policiais no Brasil que roubam R$30 reais de traficantes para não prendê-los. Ambos são alvo do crime que tenta atacar policiais. Por motivos distintos.
Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com
Fonte: Blog Abordagem Policial
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